O homem vive um dramático paradoxo
exploratório. Ele pensa, explora e conhece cada vez mais o mundo que o
envolve, mas pouco pensa sobre seu próprio ser, sobre a riquíssima
construção de pensamentos que explode num espetáculo indescritível a
cada momento da existência. O homem moderno, com as devidas exceções,
perdeu o apreço pelo mundo das idéias.
Apesar de ter escrito este livro
principalmente para pesquisadores, profissionais e estudantes da
Psicologia, da Psiquiatria, da Filosofia, da Educação e das demais
áreas cuja ferramenta fundamental seja o trabalho intelectual, eu
gostaria que ele também atingisse o leitor que não se considera um
intelectual nessas áreas. O direito de pensar com liberdade e
consciência crítica é um direito fundamental de todo ser humano; e este
livro objetiva contribuir para esse direito.
Aprender a apreciar o mundo das
idéias, percorrendo as avenidas da arte da dúvida e da crítica, estimula
o processo de interiorização, expande a inteligência e contribui para a
prevenção da síndrome da exteriorização existencial e das doenças
psíquicas.
(...) Um dos maiores erros da
educação clássica, que bloqueia a formação de pensadores, foi e tem sido
o de transmitir o conhecimento pronto, acabado, sem evidenciar o seu
processo de produção, o seu rosto histórico.
No VII Congresso Internacional de Educação * ministrei uma conferência sobre "O funcionamento da mente e a formação de pensadores no terceiro milênio".
Na ocasião, comentei que no mundo atual, apesar de termos multiplicado
como nunca na história as informações, não multiplicamos a formação dos
homens que pensam. Estamos na era da informação e da informatização, mas
as funções mais importantes da inteligência não estão sendo
desenvolvidas.
Ao que tudo indica, o homem do
século XXI será menos criativo do que o homem do século XX. Há um clima
no ar que denuncia que os homens do futuro serão mais cultos, mas, ao
mesmo tempo, mais frágeis emocionalmente, terão mais informação, contudo
serão menos íntimos da sabedoria.
A cultura acadêmica não os
libertará do cárcere intelectual. Será um homem com mais capacidade de
respostas lógicas, mas com menos capacidade de dar respostas para a
vida, com menos capacidade de superar seus desafios, de lidar com suas
dores e enfrentar as contradições dá existência. Infelizmente, será um
homem com menos capacidade de proteger a sua emoção nos focos de tensão e
com mais possibilidade de se expor a doenças psíquicas e
psicossomáticas. Será um homem livre por fora, mas prisioneiro no território da emoção.
O sistema educacional que se
arrasta por séculos, embora possua professores com elevada dignidade,
possui teorias que não compreendem muito nem o funcionamento multifocal
da mente humana nem o processo de construção dos pensamentos. Por isso, enfileira
os alunos nas salas de aula e os transforma em espectadores passivos do
conhecimento e não em agentes do processo educacional.
Augusto Cury - Inteligência Multifocal
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