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sábado, 14 de abril de 2012

O direito de virar à esquerda



Marcha soldado,
cabeça de papel,

se não marchar direito

vai preso pro quartel...



É isso mesmo boa parte do conteúdo de nossa sociedade: uma enorme massa de soldados do sistema, cujas mentes são como amareladas folhas de papel, repletas de rabiscos com normas, regras, crenças, condicionamentos, imposições, deveres e nenhuma inteligência criativa capaz de formular questionamentos essenciais que apontem para o que nos é de direito. Uma imensa massa que, desde a infância, pela excessiva exposição ao medo, foi sistematicamente coagida à submissão, ao ajustamento e, por causa da ação do medo, essa massa permanece presa dentro das enormes paredes do quartel general do não-ser. O medo roubou a capacidade da questionadora rebeldia inteligente, em resultado, a contra gosto, a grande massa se viu forçada ao debilitante ajustamento servil. O pior de tudo, é que todos os dias, logo pela manhã, essa massa continua marchando de cabeça baixa, trazendo nos ouvidos seus aparelhos sonoros numa tentativa de abafamento da cutucante fala de sua consciência; essa fala que lança um imperioso convite para uma tempestuosa revolução interna, pra lá de emergencial, no entanto esta, é indevidamente negligenciada pela grande maioria. Essa revolução pessoal interna é um chamado para o despertar da inteligência, um convite para ser no coração e não numa cabeça repleta de amarelados e estagnantes papéis sempre rabiscados por terceiros desconhecidos. É um chamado para uma revolução pessoal que não mede esforços e que não teme nem mesmo o risco de se ver momentaneamente preso num canto escuro de um quartel. Os que aceitam esse chamado, os que não cerram seus ouvidos para os cutucões da consciência, sabem que a sociedade sempre teve a tendência de fazer isso com todo homem e mulher que ousa fazer uso de sua faculdade de percepção do falso e do real e que, através dessa percepção, lançam fora de suas mentes, todos os papéis impostos por terceiros. O grande paradoxo é que, anos mais tarde, muitos dos nomes desses homens e mulheres, condenados em suas épocas ao ostracismo, muito de suas vidas, pensamentos e ações, tornam-se para sempre perpetuados nas raras esclarecedoras folhas de papel.



Talvez, você ainda não tenha despertado para o seu direito de escolha: você pode sim, ousar pelo compartilhar de suas idéias, de suas percepções, ou então, pode continuar com sua triste e enfadonha marcha, de forma "direita", preso dentro do bem disfarçado e intrincado quartel social do não-ser. Sim, você pode fazer frente aos seus medos e em vista disso, exercer o sagrado direito de também poder virar à esquerda e dizer bem alto: Não! Por ai, não vou!



Nelson Jonas

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